Sandro Mesquita
Dia do Trabalho
Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Algumas coisas já devem ter sido ditas e escritas sobre o tema nos últimos dias e ao longo dos tempos, afinal o trabalho é algo que acompanha o surgimento e desenvolvimento da humanidade. No dicionário significa um conjunto de atividades produtivas ou criativas que o homem exerce para atingir determinado fim e atividade profissional regular remunerada ou assalariada.
A palavra trabalho vem do latim tripalium, termo utilizado pra designar instrumento de tortura, instrumento feito com três paus aguçados, algumas vezes ainda munidos de pontas de ferro, nas quais agricultores bateriam o trigo, as espigas de milho e o linho para rasgá-los e esfiapá-los. O fato é que de lá pra cá o trabalho e as formas de lidar com ele e seus conceitos foram se transformando junto à sociedade e a vontade do homem de acordo com as forças de relação e poder. E poderíamos aqui citar diversas situações históricas que nos mostrariam a forma como o trabalho fez parte na vida das pessoas desde sua origem, mas não é a intenção, e sim relacionar alguns fatos para nossa reflexão.
Dentro desse espectro das relações de poder, Karl Marx irá nos abrir os olhos através da mais valia, a disparidade entre o salário pago e o valor produzido pelo trabalho. Ou seja, há uma exploração da mão de obra dos trabalhadores em relação ao valor que ele produz. A obra, escrita no século 19, mais precisamente em 1865, causou burburinhos, debates, conversas contribuindo para a organização da classe trabalhadora dentro de uma revolução em período de reinvenção e restauração sobretudo das relações pós-guerra.
Em 1886, nos Estados Unidos, mais precisamente em Chicago, milhares de trabalhadores entraram em greve reivindicando jornadas de oito horas dentro da revolução mental por busca pelos direitos trabalhistas, completando a luta por direitos civis, assim como moradia, saúde e educação. Nesse mesmo período, o Brasil se valia da mão de obra escrava, regime ou medida implementada desde o seu descobrimento em 1500, como forma de exploração da terra. Então, se pegarmos seu significado no dicionário com a origem da palavra em latim, teremos a escravidão à época?
O fato é que as teorias revolucionárias de desenvolvimento industrial e humano custaram muito a chegar no Brasil. Mesmo com tantas viagens dos imperadores e reis da nossa Nação ao exterior - Portugal, Espanha, Inglaterra e seus aliados. Naquele mesmo período, a ideia de transformação social e das relações de trabalho, acredito, não seriam bem vistas por olhos gananciosos e sem piedade, que faziam das pessoas pra cá trazidas “sem valia” alguma.
A partir de 1888, ou seja, 15 anos após a criação da teoria que ajudou no processo de organização da classe trabalhadora na Europa e dois anos depois da tragédia nos Estados Unidos que culminou com o feriado do 1° de Maio, Dia do Trabalho, tivemos aqui um processo que disse acabar com a escravidão ou escravização de pessoas que eram obrigadas a desenvolver uma atividade que não temos como chamar de trabalho. Com muito mais de 12 horas de esforço, sem direito a intervalos, sem alimentação adequada, sem descanso remunerado nem aos fins de semana, e que foi jogada à própria sorte sem profissão dentro de uma sociedade que não lhe via com humanidade e que estava prestes a modificar suas matrizes econômicas por conta da industrialização, tecnologia que seria operada por imigrantes trazidos dos países em guerra para o Brasil.
Muitas coisas mudaram. Mas Dia do Trabalho, para quem?
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